Interpretações entre “Divino vs. Nefasto” poluem o debate sobre sustentabilidade e prejudicam sua aplicação e eficácia necessárias
É verdade que os embates ideológicos antagônicos enriquecem nosso caminhar, todavia é igualmente sabido que podem dificultar discussões saudáveis sobre inúmeras questões sociais, como sustentabilidade, por exemplo. Mesmo que pertinentes e próprios de nossa composição, o embate no qual vivemos leva a visões extremadas e polarizadas, prejudicando avaliações racionais e objetivas. As discussões tendem a se tornar mais carregadas de ideologia (leia-se: emoção), dificultando a busca por soluções equilibradas e baseadas em evidências. Essa polarização, muitas vezes, cega a compreensão dos problemas, resultando em análises menos imparciais e mais influenciadas por crenças políticas, as quais hoje estão semelhantes as posições de torcidas organizadas.
É importante considerar perspectivas sem deixar que essas emoções influenciem excessivamente a análise de temas importantes, afinal, a pluralidade de ideias e valores pode enriquecer o entendimento, desde que seja feita de forma racional e analítica, permitindo uma visão abrangente e embasada sobre essas questões cruciais. E não custa lembrar: no fluxo informacional atual desconstrução é infinitamente mais rápida que a construção.
Até mesmo evidências científicas precisam ser bem utilizadas, pois, além de exigir uma leitura sobre as bases próprias da academia - com métodos, referenciais; contestações, contraposições e validações - não podem ser manipuladas para embasar os sentimentos e ou ressentimentos; quando levadas a público elas precisam ser cuidadosamente meadas por um espírito analítico, deixando as emoções ideológicas de lado.
Ridicularizar ou santificar as ideias envoltas na sustentabilidade e nos aspectos do hoje midiático “ESG” (Ambientais, Sociais e de Governança) como mero embate entre o certo e o errado não contribui para a sua integração. A complexidade desse assunto vai além de uma visão dicotômica de bem versus mal, de “Divino vs. Nefasto”, dividindo o debate entre ideias opostas. Os métodos de sua abordagem não podem desencorajar o entendimento aprofundado e a adoção de práticas sustentáveis e responsáveis. É essencial promover uma discussão ampla, educativa e inclusiva, destacando a importância de tais conceitos de forma holística, sem reduzi-los a uma narrativa binária e superficial, afinal, a ecoeficiência de organizações visando a satisfação de clientes, a rentabilidade e menor impacto ambiental deve estar adequadas a “pluralidade de valores que estão inseridos no debate ambiental” (ALENCASTRO, 2015, p. 106)
Dentro disto, as estruturas sociais como entretenimento, educação e outros aspectos culturais, dos mais simples aos complexos, desempenham um papel significativo na construção das percepções e valores da sociedade. O esporte, em particular, é um veículo de evolução de valores altivos. No século passado, à medida que a conscientização sobre o meio ambiente e a sustentabilidade crescia, essas bases também começaram a se refletir no mundo esportivo. Hoje, já é possível ver o esporte atuando como um agente catalisador desses preceitos. Eventos esportivos importantes frequentemente incorporam práticas sustentáveis, desde o gerenciamento de resíduos até o uso de energias renováveis, buscando inspirar mudanças e conscientização em massa.
Atletas e equipes frequentemente se tornam porta-vozes de causas ambientais, aproveitando sua influência para destacar a importância da sustentabilidade. Tal integração dos valores no mundo esportivo não apenas eleva a conscientização, mas também ilustra como esses temas são essenciais e estão intrinsecamente ligados a diferentes esferas da sociedade, incluindo o entretenimento e os aspectos culturais.
Compreendemos, no entanto, que esses ambientes esportivos - sejam eles os espaços do dia a dia em confederações, associações, federações ou os grandes centros de oferta de produtos, como clubes ou empresas de alto rendimento – acomodam e atendem a uma variedade de perfis. É uma certeza: do pão e circo aos atuais torneios de League of Legends, qualquer pessoa, independentemente da idade, orientação, religião, gostos ou preferências, pode ser um potencial cliente ou entusiasta impactado pelo esporte.
Retornamos ao cerne da presente reflexão. É um desserviço concentrar o debate da “sustentabilidade no esporte” no mesmo ringue de embates políticos e/ou econômicos, posicionando o assunto ora entre direita e esquerda, cada uma aplicando suas inclinações e discursos próprios, assim como torcidas organizadas raivosas.
A sustentabilidade é um tema inescapável, ponto! Qualquer confronto desta condição é completa insanidade e desvinculação da realidade. Ignorar a necessidade de adequar nossas ações para manter cadeias produtivas e riqueza, qualidade de vida e uma existência digna é outra considerações que, se descartadas, resultará nos mesmos desfechos de insanidade e desconexão da realidade.
O esporte pode ser uma colher de paz nesse embate. Não que os conflitos políticos e ideológicos cessarão (considerar isso seria uma, igualmente, insanidade), mas o esporte silenciosamente ocupa um papel fundamental na construção de alicerces para caminharmos. Gestores esportivos de vários níveis, assim como atletas e grandes indústrias, desempenham um papel que nem imaginam neste percurso histórico. Aqui, no universo particular do esporte, gregos e troianos, direita e esquerda, yin-yang sentam lado a lado na arquibancada; é algo muito importante a ser considerado e não deixado de lado.
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