Historicamente, o esporte popularizou, simplificou e até criou termos e expressões. Esse dicionário pode jogar a favor da sustentabilidade
A constante utilização de lexemas relacionados ao aculturamento sustentável é fundamental para a construção de um novo paradigma por meio do esporte. A afirmação parece propositalmente presunçosa, mas não é e está totalmente aderida a noção do esporte enquanto um catalisador da sustentabilidade ambiental.
Biderman (1981) explorou sobre a complexa organização das palavras na mente humana. Sobre suas bases, temos que o léxico é organizado em uma teia de conexões e associações entre palavras e seus diferentes agrupamentos. Esta rede, por ser um reflexo da cultura e conhecimento de uma sociedade, carrega elementos representativos de grupos, culturas e épocas distintas. Assim, compreender e disseminar termos e definições aparentemente “estranhos” é essencial para promover mudanças sociais, culturais e econômicas.
A produção lexicográfica – aquela preocupada em organizar as palavras e expressões e seus significados – está intimamente ligada à questão sociocultural do momento vivido, contextualizando e ampliando o léxico conforme as transformações da comunidade (SOUSA, CASTIGLIONI, KLINGER, 2020).
Portanto, é necessário romper com preconceitos e estereótipos enraizados, como a noção de que a sustentabilidade é apenas um modismo ou um conceito distante da realidade cotidiana.
A exemplos: o programa ambiental "Nossa Identidade Verde" (NIV), do Coritiba, assume a missão de promover a percepção e a responsabilidade em relação à biodiversidade entre torcedores, sócios, atletas e colaboradores do clube Paranaense. Entretanto, a comunicação direcionada a um público diversificado muitas vezes pode parecer estranha ao abordar temas como preservação da fauna e flora, equilíbrio hídrico, resíduos e outros.
Em recente produção de conteúdo, tivemos uma importante reflexão no trabalho do departamento de comunicação do Coxa. A questão centrou na construção do roteiro e a gravação de termos pouco usuais na educação e conscientização.
Outro exemplo recente foi a comunicação realiza com atletas de bodyboarding na 3ª etapa do Circuito Brasileiro realizado no Paraná, quando a Confederação Brasileira de Bodyboardong (CBRASB) e federação local implementaram uma forte agenda a favor da sustentabilidade, e conteúdos foram criados destinados a atletas e público com dicas socioambientais.
Em ambas as situações foi motivado o uso de termos e conceitos relacionados à sustentabilidade, aproveitando a oportunidade para aculturar atletas, espectadores e torcedores para noções mais conscientes e preservacionistas.
A estratégia para que esses termos se tornem comuns e facilmente compreendidos é integrá-los (naturalmente) ao cotidiano das pessoas. Ao associar tais conceitos com o universo esportivo, principalmente o futebol, que é tão arraigado na cultura brasileira, ocorre um processo de aculturamento espontâneo. Expressões como "pisar na bola" e "surfar a onda" são exemplos de como o léxico esportivo e futebolístico já permeiam nosso dia-a-dia, demonstrando o potencial de edificação linguística que o esporte oferece.
Portanto, é imprescindível que os clubes de futebol e demais organizações e atores, como importantes veículos de informação e influência na cultura brasileira, assumam a responsabilidade de disseminar conceitos e práticas sustentáveis, promovendo uma mudança de mentalidade em seus fãs e todo o círculo de atores. Ao fazer isso, estarão contribuindo para uma sociedade mais consciente, engajada na preservação do meio ambiente e comprometida com a construção de um futuro mais sustentável.
Este é um dos alicerces da noção de um Fair Play relacionado ao meio ambiente, gradativamente sustentabilidade, biodiversidade, patrimônio natural, economia verde, gestão de resíduos entre outros deixarão de ser palavras estranhas e se tornarão parte integrante do dia-a-dia das pessoas e o esporte segue fortalecido como um catalisador da sustentabilidade.
Referências
DE SOUSA, R.R.; CASTIGLIONI, A.C.; KLINGER, K.D.S.A.. Aspectos socioculturais expressos no léxico da língua: uma análise dos lexemas ‘quilombo’e ‘quilombola’. Confluência, pp.281-298. 2020.
ISQUERDO, A. N. O fato linguístico como recorte da realidade sócio-cultural. 409 f. Tese (Doutorado em Letras). UNESP, Araraquara-SP, 1996. ISQUERDO, A. N. O fato linguístico como recorte da realidade sócio-cultural. 409 f. Tese (Doutorado em Letras). UNESP, Araraquara-SP, 1996.
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