Prestes a completar seu primeiro ano de vida, Laguna inovou e rompeu padrões sendo primeiro clube vegano do Brasil
O veganismo é uma prática, uma filosofia, uma forma de agir e se relacionar com impacto direto em cadeias produtivas tendo como premissa o não uso ou exploração animal. Arrisco: um tema pouco (ou nada) compreendido e que causa muito desconforto.
Primeiro vamos buscar entender melhor o veganismo. Para isso, usaremos a expressão do pessoal do veganismo.org.br, uma tradução do The Vegan Society. Eles ensinam que o “veganismo é uma filosofia e estilo de vida que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra animais na alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade e, por extensão, que promova o desenvolvimento e uso de alternativas livres de origem animal para benefício de humanos, animais e meio ambiente”, (The Vegan Society, 1944).
Na essência apresentada está manifesta a imersão do veganismo nos cuidados com o meio-ambiente e outros valores. Parece inquestionável que as opções e inúmeras entregas da cultura vegana, ainda que cercadas de opiniões contrárias com argumentos sociais, políticos e econômicos, constitui-se em um forte elemento a favor do equilíbrio homem/meio.
Tendo como alicerce essa filosofia, um grupo de entusiastas brasileiros romperam paradigmas da nossa indústria esportiva e criaram, em 2022, o Clube Laguna SAF. Mais que uma opção, o Laguna é uma prática transformadora que questiona o padrão dominante de consumo de proteínas em nosso país e no comportamento da indústria.
O clube, fundado pelos sócios Gustavo Nabinger, Rafael Eschiavi e Deia Nabinger, começou diferente já na natureza jurídica, adotando o formato SAF (Sociedade Anônima do Futebol), autodefine-se como starts-up de prática esportiva e, por fim, tem orgulho do título de primeiro clube vegano do Brasil e o segundo do mundo. Em seu primeiro ano de vida, ficou na segunda colocação da divisão de acesso do campeonato Potiguar.
Um caso à parte - em 2018 a Netflix lançou o documentário Game Changers, produção de James Cameron e Arnold Schwarzenegger. Com tradução no Brasil como “Dieta de Gladiadores”, o doc. explorou e exaltou a alimentação de atletas de alto rendimento - ou de bem-estar e qualidade de vida - sem uso de proteína derivada de animais. Ao abordar o veganismo como um caminho às necessidades de alto rendimento, Game Changers colocou fogo no parquinho. Críticas e elogios vieram de todos os lados com nenhuma, pouca ou muita argumentação; assim como aprovações e contestações.
No entanto, nenhuma crítica afirmou (ao menos não encontrei) que o veganismo não é uma opção.
O que mais expressa relevância no Laguna é a iniciativa em aplicar importantes alterações da cadeia produtiva do esporte de alto rendimento, modificando práticas enraizadas de forma tão expressivas. A equipe Nabinger fez acontecer aquilo que o time Schwarzenegger teorizou, e propôs um debate realmente forte para o círculo esportivo brasileiro.
Este caminho fora iniciado pelo Forest Green Rovers (primeiro clube vegano do mundo), alterou toda uma dinâmica e vem defendendo uma maneira própria de formar e levar atletas a campo. Como destacado pelo site da FIFA, a proposta não é alterar o estilo de vida dos atletas, entretanto, aqueles que vestem a camisa do clube terão suas refeições e atividades diárias orientadas pela filosofia do clube.
Pensando na sustentabilidade ambiental no esporte: agir na base organizacional, modificando status, inovando e implantando algo novo são provas do interesse e do compromisso com a causa. Mesmo com as opiniões contrárias do veganismo como uma opção em larga escala, o controle de cativeiro animal é fator relevante para um futuro muito próximo. Sabemos que quanto maior a produção de carne maiores os impactos na biodiversidade. Isso sem entrar no tema respeito a vida.
Chegará um momento no qual essa produção será seriamente repensada. Devido aos lobbies e políticas de mercado, muito possivelmente será no limite da urgência. Até lá, talvez o veganismo possa ganhar um pouco mais de compreensão, ser menos estigmatizado, criando a consciência de agirmos na medida do possível e do praticável.
O Laguna inovou e trouxe o debate ao centro do ambiente esportivo brasileiro. Será incomodo, mas transformador. Vale o pensar!
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